manchinha

Março 19 2004
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Doem-me os dentes vocês não sabem mas isto de não se ser bem sucedido faz doer os dentes e como já não me lembro o que é ter dores de dentes há tanto tempo faz muitos anos só me lembro da infância e mesmo assim nem toda não quero é mentira não há infâncias absolutamente felizes há infelicidades que não se esquecem mas estão longe e é mais fácil seleccionar os ficheiros de qualidade a reciclagem é que continua a funcionar mal quem é que quer reciclar coisas desagradávei mesmo que depois dêem papéis lindíssimos com texturas maravilhosas em que apetece tocar. Como ia dizendo, doem-me os dentes é como se tivesse uma enorme cratera na cara e os dentes demasiado grandes inchados inflamados a explodirem de lá de dentro a cara a doer quase tanto como os dentes. Dizem-me que não cheira mal mas não acredito há um odor fétido no ar como a minha alma feita massa pegajosa pútrida que se agarra aos dedos dizem-me que sonhar com dentes é sonhar com a morte mas não acredito porque me doem mesmo o raio dos dentes o que tem a morte que ver ccom isso só se é porque entretanto apodreça com a infecção espalhada por todo o corpo pelo cérebro a soltar a dor em alucinações e medos que já me aterrorizam. Não nasci para isto devia estar numa bonita praia com areia muito limpa o som do vento nas palmeiras atrás o barulho das ondas e tanta tranquilidade que adormecer fosse só para sonhar com alegrias para não nos lembrarmos depois que os sonhos ficam melhor guardados de dia parecem pesadelos se não nos largam. Digo-vos som toda a certeza esta dor de dentes ainda me mata pareço outro cristo a pagar por não sei que pecados meus não concerteza não me lembro de ter feito alguma vez alguma coisa que merecesse tamanho sofrimento e não não recebi a visita de nenhum anjo não me chamaram cordeiro nem me puseram num rebanho para suportar destinos que não planeei como se isso valesse de alguma coisa neste mundo nunca percebi como alguém planeia seja o que for e sobrevive ao eterno colapso da esperança nunca coisa alguma correponde às nossas expectativas mesmo quando acontecem os sonhos não sabem ao que estávamos à espera o arquitecto desta coisa deve ter cometido graves erros de base para ser tudo tão tremendamente f... e medonho e difícil e doloroso e sem razão aparente que o justifique. O raio dos dentes continuam a doer o cansaço da dor já é tanto que nem apetece sofrer mais um bocadinho para os tratar nem a promessa da cura nos compensa a partir de um certo momento passada uma linha na nossa cabeça que achamos que é o limite. Doem-me os dentes agora já a garganta pressinto que a infecção se alastra o cérebro começa a recusar-me os habituais instantes de lucidez entre as idas e vindas pelas células pelos cantos do corpo em que se perdem as sensações pelo menos eu perco tanta extremidade sensivel tanto input não adiciona nada senão à incapacidade de estabilizar a consciência não vos sucede perceber de repente está absolutamente tudo fora de controlo não adianta o que pense ou faça as coisas seguem o seu rumo próprio e para que serve o livre arbítrio se de nada bale deitar-lhe a mão uma cadeira continua a ser uma cadeira nunca deslizará para vir ter connosco a aeronave cairá sempre em cima do local onde está o ente querido não há forma de exercer aí e em qualquer outra circcunstância o livre arbítrio quando o fazemos parece que também já o fazemos de acordo com a inevitabilidade das catástrofes naturais das maleitas dos golpes de azar. De que serve então a vida se não passa de mais uma dor de dentes não me dirão não não me digam nada de qualquer modo não ouvia o inchaço do dente lateja-me no ouvido doem-me mesmo os dentes...
publicado por manchinha às 14:35

manchas negras, cinzentas e brancas em todos os cantos da nossa vida. que fazer senão chocar de frente com elas e esperar que o acidente tenha consequências notáveis?
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