manchinha

Fevereiro 29 2008
venho aqui muitas vezes falar contigo quando te sinto de novo e posso desdobrar as palavras em emoções fortes calmas amorosas só isso
publicado por manchinha às 06:03

Fevereiro 27 2008
o problema da chicória era o do verde que nem sempre era igual e à sombra fazia crescer endívias naquele campo de amendoins não havia problema porque a temperatura ia ao rubro até se sentia no ar o cheiro da noz torrada com piri-piri diziam alguns ou pimenta vermelha também vai bem o que acontece com a chicória é um problema de desadequação não fica bem a nenhuma crescer assim em terras vermelhas em vez de escuras frias e negras não faz bem torrar ao sol porque a delicadeza exige recato e atrofiamento enfim sabe-se hoje que mesmo sem a sofisticação da endívia a chicória de recomenda para uma digestão plena já ao amendoim aproveitam-se as folhas para a matapa picadas em pasta verde aromatizada com leire de coco e especiarias caranguejos de rio e óleo de palma servida sobre funge ou arroz pilau tudo em aromas quentes inebriantes ricos de gente que está habituada a sentir o corpo muito ao contrário da contenção abstenção privação sugerida pela delicada endívia coroada com cubos de queijo de pasta mole para deglutir com golfadas de vinho tinto de dedos como garras apontados ao cérebro
publicado por manchinha às 13:57

Fevereiro 26 2008
nos teus olhos sou capaz de me perder porque me contam histórias me puxam para aventuras e sonhos a que não sei resistir entre viagens fantásticas que me enchem de desejos e onde nunca estou desalentada é nos teus olhos que me revejo quando se iluminam e eu sei que te agrado que te faço bem que em algum canto remoto do teu cérebro toda a tua química está receptiva a mim é por eles que me fecho quando uma sombra negra os assola e eu sinto que algo não está bem sei sempre quando não está porque és tu que mo dizes o meu mundo desaba nesse preciso instante como se mais nada nem ninguém me pudesse jamais devolver o reflexo da felicidade do prazer do bem querer não importa quantos outros olhos eu veja porque neste momento são os teus e apenas os teus que contam mesmo por efémeros que sejam os teus olhos são eles e este o momento somos nós é uma unidade que se quebra como um vidro em mil estilhaços com um ruído que me faz encolher e sentir que não há remédio não há remédio não há remédio vês como é o som que eu ouço quando vejo a sombra nos teus olhos
publicado por manchinha às 11:21

Fevereiro 23 2008
a propósito desta lembrança da só maria recuei uns tempinhos para lembrar a altura em que andávamos muito ufanos de livrinhos forrados com papel pardo para a pide não ver que levávamos ali livros proibidos na altura eram mais os clássicos russos ou as três sereias que falava de umas ilhas onde toda a gente era muito liberal com o sexo especialmente as mulheres sim que nessas é que a gente vê a liberalidade dos homens ou seja em casa tem de ser tudo tradicional mas lá nas ilhas era tudo possível pelo menos na altura acabei por ler o livro às escondidas primeiro que a minha mãe e as amigas porque os papás foram lê-lo primeiro para ver se realmente não tinha nada impróprio para as mamãs vejam lá se há algo mais impróprio do que a censura enfim mas voltando ao que me trouxe aqui que foi o post da só maria com um vinil do josé afonso que entre nós era apenas o zecafonso o pai do joão ainda antes o professor de história que me fez o exame de admissão ao liceu na beira que foi onde eu nasci e voltei mais tarde para estudar então eu estava esmagada pela enorme sala de aula do liceu colonial pêro de anaia porque há que ver que a minha escola primária em inhaminga era uma escola novinha com tecto de colmo para ser mais fresco mas sem paredes tínhamos um muro à volta das salas que era mais fresco e mais barato também convém notar que já na altura eram parcos os investimentos na educação e aquela era uma escola para todas as cores de gente não um liceu colonial de manhã tínhamos de pegar numa folha e limpar dos tampos das secretárias as caganitas dos morcegos que iam para as aulas à noite então terminando ali tive de ir à beira fazer a admissão nessa altura faziam-se as duas ao liceu e à escola técnica a dada altura lá me chamaram para o estrado só me lembro que tudo aquilo era imenso para quem só em setembro faria nove anos então ele o zeca que era vizinho do meu tio e eu até já conhecia de vista ou de rajada como todas as crianças que têm de cumprimentar adultos e escapar-se rapidamente para as suas urgentes brincadeiras arrastou a cadeira no estrado com um barulho que não foi só a mim que arrepiou os ouvidos perguntou-me coisas fáceis como a data da independência de portugal mais a instauração da república tudo coisas misteriosas para alguém da minha idade que ficava muito contente de as saber e recitar visto que isso dava um tão grande prazer aos adultos quando me ouviam depois perguntou também e sabes por que é que os portugueses perderam o brasil ao que eu me lembrei do ipiranga que era um nome engraçado e do miguel e do pedro e de algumas datas que debitei por ordem como tinha empinado mas não era isso que o zeca queria não senhora não nada disso tu não sabes mas eu vou dizer-te por que é que os portugueses perderam o brasil tremi juro que tremi aterrorizada por tão súbito falhanço os portugueses perderam o brasil porque mamaram demais na vaca foi então que eu tive a certeza de que ia chumbar só podia com aquela voz zangada do zeca tinha acabado de me fugir o chão debaixo dos pés ainda deitei um olhar aflito à minha mãe e uma das senhoras que também estava à secretária com o zeca veio e levou-me até ao meu lugar na carteira ao lado da minha mãe enquanto outra bichanava ao ouvido dele felizmente alguém se lembrou de nos dar um intervalo quando voltei para a sala consolada pelo leite com chocolate e por uma torrada douradinha e ainda a cheirar ao fogão de lenha onde a tinham tostado o zeca já não estava e foi uma senhora que me fez as perguntas só das que eu sabia foi fácil o meu exame de admissão assim

aqui há três anos numa passagem de ano em santiago de compostela entrei num bar onde de repente a música de dança mudou para o zecafonso e toda a gente se levantou e cantou em conjunto praticamente todo o reportório dos vampiros ao venham mais cinco e era uma tal alegria que juro que me convenci que se calhar tinha havido um golpe de estado e a galiza se tinha tornado independente ou coisa assim mas talvez os galegos com o chagrin julguem que o salazar passou a fronteira a salto e os foi assombrar para aqueles lados sei lá
publicado por manchinha às 09:59

Fevereiro 22 2008
hoje tenho lágrimas nos olhos quero espantá-las até porque fazem dores de cabeça e não há lágrimas purgadoras nem consolações piedosas que afinal agudizam ainda mais as penas por que não basta cerrar os dentes e contê-las não chega um corpo inteiro para parar a dor e tu dizias-me com a idade é mais fácil vais ver mas não pelo contrário sinto-me mais tola à medida que o tempo passa mais consciente dos pequenos afectos afinal tão grandes importantes nada ténues o teu sorriso achava-o irónico afinal divertias-te com os meus esforços birras de criança grande a querer levar tudo à frente a desbaratar forças e afinal tu é que sabias porque nesta vida há que ter um nada de santo para se compreender tanto esperar tanto e fazer outro tanto para mim ao mundo há que talhá-lo se não é assim há-de ser calma não pode ser tudo à força dizias-me para meu desespero mas depois descobria o brilho nos teus olhos quando alguma coisa me saía bem nem por isso me poupavas estavas a mostrar-me coisas agora sei-o na altura não e agora que falta me fazem procuro-as na mesma deixa que não hei-de esquecê-las só hoje não posso usar mais palavras porque estão como as lágrimas a toldar-me a alma
publicado por manchinha às 01:57

Fevereiro 20 2008
sinto-me
embruxada enrolada em
palavras mágicas que me
prendem a
ti num canto de
sereia encanto de
medeia teia de
tesouros ouros
desfeitos em
areias dunas de
um deserto em
que me perdi sem
ti senti o
golpe que
rasga esmaga
todos os
sonhos miragens
ilusões de
mil e uma noites
princesas de
pele dourada
peregrinações
caravanas guiadas
abandonadas
publicado por manchinha às 09:17

Fevereiro 17 2008
tenho uma mão cheia de defeitos a apontar ao mundo real pois os objectos as coisas as árvores a natureza tudo isso tem vida e vontade própria não desfazendo em todos os maravilhosos e convincentes manuais de auto-valorização segredos e coisas que tais até acho magnífico de repente adquirir a capacidade de nos sentirmos como buldozers que avançam pela vida sem que nenhum obstáculo lhes faça frente mas o uso da força é directamente proporcional às suas consequências não é e à qualidade do seu usufruto também estive a passar os olhos em todos esses manuais de drugstore sobre auto-conhecimento auto-aperfeiçoamento auto-enriquecimento e já me estou a imaginar claro sentada numa cadeira de fazer massagens seis horas por dia a meditar no próximo bilhete premiado de lotaria que vou comprar e já me estou a ver a desfilar nas passadeiras com um vestidinho sem costas transparente para deixar ver o meu corpo belo e esguio e sem defeitos que também vem com os manuais de auto-ajuda e não dizem nem em letras pequeninas a quantidade de dor nem a duração dessa mesma dor relacionada com as semanas e meses de cirurgia plástica e outras medida draconianas impostas a quem quer frequentas as passerelles mas é tão fácil chegar às prateleiras e arrebatar não um não dois não três mas uma colecção de manuais de auto-ajuda ou então ir a correr para a igreja culto seita templo salão reunião espiritual e orar mas orar mesmo muito em agradecimento a um deus que nos fez miseráveis horríveis e desadequados mas só pelas melhores razões só porque nos tenciona compensar numa vida futura ora bem acho que já ouvi isto em inúmeras entrevistas de emprego incontáveis conversas com patrões absolutamente crentes nas técnicas demagógicas e olha vai pondo a cenoura à frente do burro que ele quando se cansar volta a pastar
publicado por manchinha às 10:44

Fevereiro 15 2008
toda a gente diz que te amo também sinto que te amo mas por vezes o amor fica distante como um acontecimento a que se assiste e até nos abala bastante só que é como se de repente nos sugassem para outra dimensão um sonho em que nos assistimos a nós próprios intenso mas separado de nós por uma barreira invisível não te entregas dizes tu com absoluta certeza e disparates penso eu porque sei bem o que tu fazes quando me deixo ir um dado momento pegas nisso tudo para usar como arma de arremesso contra mim hábito deplorável tão falho de amor sensibilidade respeito por isso quando toda a gente diz que te amo não ligo nem sequer concordo totalmente porque me fica esta reserva de me saber vulnerável nas tuas mãos ao amor que te tenho à exposição pública que dele fazes à futilidade com que o comentas toda a gente diz que te amo mas eu não sei se me amas
publicado por manchinha às 09:46

Fevereiro 12 2008
sei que não te quero mas sabe-me bem esta nostalgia que de ti trago um grão de paixão que fica para trás e não nos abandona em determinados dias enche-nos o coração às vezes os olhos de lágrimas não é tristeza não só nostalgia do que senti por ti por mim por nós lembro-me de que foi forte intenso doce profundo e já não existe mais persiste vive na memória e é uma coisa física sensação que se liberta e se espalha pelo corpo e traz lágrimas sim baixo os olhos quando vem passeio-a sozinha por aí e depois continuo a minha vida faz-me até companhia esta nostalgia porque segue a meu lado uma imagem ideal de ti num universo paralelo perfeitamente compatível com o meu e aí tens a perfeição que desejamos sempre que nos apaixonamos ai está a relação que imaginámos afinal existe num limbo em que tudo se torna possível e eu que acredito que forjamos os nossos laços em tempos que comportam a eternidade suspiro quando vem a nostalgia e me recorda certezas e razões esquecidas em zangas miúdas e também me lembro que a fantasia com que te imaginei antes é parente próxima da nostalgia de ti que juntas são como duas irmãs duas partes da mesma entidade apenas separadas pela ocasião visto que uma nos sonha antes e a outra depois devem ser estas as almas gémeas afinal vês como é possível afinal mesmo quando no meio delas fica o encontro a explosão sem lugar para nada mais senão o fogo que nos consome e depois tudo o resto é um parto doloroso a esgravatar na lama de uma vida que nada tem que ver com o nosso amor um porto seguro para nada porque depois temos de ver nos ver partir sem forças para nos mantermos unidas e afinal não é preciso porque quando chega a nostalgia percebemos que o amor continua que não se perdeu está apenas aqui ao lado sombra que nos acompanha pela vida fora se te virares vê-la colada a ti mas a maior parte das vezes nem te lembras não faz mal porque é eterno e perfeito idêntico ao sonho inicial
publicado por manchinha às 09:19

Fevereiro 11 2008
tenho-te ouvido dizer essas coisas todas em voz baixa assim de uma forma que me faz chegar a ti para perceber se é isso mesmo que me estás a dizer e me sentir próxima cada vez mais próxima de ti porque na tua voz baixa eu ouço sons histórias de amor mesmo quando não é de amor que me falas eu ouço muitas coisas e sinto outras que me parece que me queres fazer sentir tenho-te ouvido todos os dias e deixo-me encantar embalar em tantas coisas suaves murmuradas na tua voz baixa eu ouço-te e penso como seria feliz se te pudesse ouvir assim todos os dias ainda entre lençóis tão perto de ti que sentisse o ar a vida a sair da tua boca o teu rosto tão próximo que não o conseguisse ver apenas adivinhar entre as confusas sensações do sono e da tua proximidade como seria feliz se pudesse sentir assim sempre e lembrar-me disso o dia todo como posso pensar outra coisa senão que gosto dessas coisas que me dizes baixinho baixinho para que eu me chegue a ti e me sinta assim ligada para sempre à tua voz à tua existência que não me imagine sequer sem ela o que me faz chegar a ti é essa forma suave com que me atrais a certeza que tens de que te vou ouvir porque quero porque desejo e hoje senti-me mais uma vez assim
publicado por manchinha às 21:51

manchas negras, cinzentas e brancas em todos os cantos da nossa vida. que fazer senão chocar de frente com elas e esperar que o acidente tenha consequências notáveis?
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