manchinha

Março 31 2008
pelos meus dedos passam os teus a passeio dizem eles de sorriso tolo nos lábios enquanto ao lado o rio passa mas pelos meus olhos só passas tu o teu olhar que me retém nas correntes invisíveis que entre os nossos corpos se multiplicam de madrugada para durarem o dia inteiro e se for preciso procuram-te a meio do dia em toques leves que não mostram a imensidão do sentimento que nos corre por dentro é tudo relativo amor é tudo tão bom que o guardo como um torrão de açúcar na boca para se ir desfazendo ao longo de um grande momento aqui à beira-rio sentada contigo a ver o pôr do sol é assim que nos sentimos imensas como instante que separa o início da luz vermelha da noite azulada em que vamos reencontrar-nos com gestos fortes e suaves e perder-nos num caminho que é sempre e apenas nosso
publicado por manchinha às 09:25

Março 27 2008
deixa-me passar os olhos pelo horizonte contar os passos que vão daqui até aí e parar para sentir porque agora é assim em todas as partes do meu corpo cresce a sensação de ti que tenho de manter sob a pele na ponta da língua no forte do meu coração diz-me então o que te segreda a tua alma antiga diz-me quando é que passa esta força que me faz desejar explodir quando é que finalmente livre adormecerei nos teus braços embalada pelos teus sonhos que me trazem acorrentada ou solta conforme a tua vontade deixa-me passar os olhos pelo horizonte sentir o último calor de um sol vermelho enquanto me preparo para esta viagem contigo
publicado por manchinha às 14:18

Março 23 2008
por vezes tenho medo quando estou sozinha no fundo do mar o frio que faz aqui em baixo ensopa-nos o corpo escoa-nos de forças parece que já não saímos daqui que já somos parte do fundo misturados com a água a areia as partículas abro os olhos e a luz está tão longe e eu sem forças para lá chegar parece mesmo que vou ficar só que na cabeça não é essa a minha vontade olho em volta mais atenta e então começo a ver as imensas partículas que flutuam em volta atento a todas algumas mais do que outras não sei exactamente porquê são os olhos que têm essa habilidade vontade de escolher algumas que cria uma enorme vontade de as seguir abro a boca e sugo-as sim apanho-as com a única parte do meu corpo que ainda consigo mover sugo-as com força e elas vêm como uma corrente de pequenas pérolas florescentes a entrar no meu corpo como um rio de energia a reconstruir cada porção diluída na água até recuperar tudo e continuo a sugar esse rio só que agora é o meu corpo que flutua e segue esse fio de vida até à luz e nesse caminho que faço recupero todas as minhas forças monto a minha energia como um puzzle de milhares de peças pequeninas entrelaçadas coesas como uma malha que agora é impossível deslindar sou uma rede fortíssima e não me espanto quando pouso um e outro pé na areia com força e saio a caminhar da água como uma mutante com os olhos ainda húmidos do mar algas ainda entrelaçadas nos cabelos agora sou eu de novo mas ainda mais poderosa e solto isso num único grito
publicado por manchinha às 10:16

Março 22 2008
o que quero o que me apetece é dizer-te muitas vezes coisas sem importância das que te fazem sorrir comigo contar-te em muitas palavras histórias pequeninas observar-te enquanto as ouves atentar aos teus gestos e beber as tuas palavras até crescer entre nós o silêncio  de que estamos à espera para sentir e entender isto que ainda é novo e tem de se habituar dentro de nós o silêncio em que só o corpo fala e mesmo quando não nos olhamos sabemos o que vai connosco depois talvez puxes de um cigarro e eu estenda a mão porque também quero sentir o fumo a queimar-me no peito como tu o sentes procurar então os teus olhos e esperar que eles me devolvam o que tenho vontade de te arrancar que já me dói cá dentro que me puxa com a força a vertigem de um abismo para ti quero ler no brilho húmido dos teus olhos o mesmo para então baixar a cabeça para me render e deixar que me tomes nesse aperto que nos adormece para tudo o que não seja apenas nosso vês como me rendo submeto ao teu fogo cada centímetro de pele arrepiada vês como da surpresa me faço presa
publicado por manchinha às 23:32

Março 21 2008
sinto que me seguras amarra sólida que me impede de seguir à deriva rio abaixo sinto que me seguras e gosto mesmo sentindo que se afastam de mim as estradas de outros mares de outras paragens não resisto piso em terra firme e deixo-me inebriar pelos cheiros pelas cores pelos sons deponho as minhas armas e sossego um momento ao teu lado adormeço nos teus braços e sinto-os como o mar que me embalou em tantas aventuras agora és tu o meu navio e não quero soltar amarras escondo de mim o dia em que voltarei a sentir o chamado do rio da água dos mares outras paragens outros cheiros outros sons outros sonhos
publicado por manchinha às 20:38

Março 18 2008
ao ritmo de um acordeão cigano as lágrimas às vezes são tolas não nos obedecem como hoje em que o acaso me devolveu uma foto tua meia enterrada na neve sempre gostei do teu sorriso ali feliz no meio daquele branco todo já quase não me lembrava do que me fizeste rir quando me contaste como demoravas e demoravas para calcorrear vinte metros até à cabina telefónica de onde me telefonavas à noite de repente lembrei-me de tudo do primeiro jantar a troca desajeitada de números de telefone a paciência com que esperaste que te aceitasse e como depois tudo se tornou tão fácil tão feliz mesmo as lições de golfe na serra onde plantávamos para sempre  bolas brancas o que te arreliavam os meus súbitos improvisos com a harmónica só para te ver baralhar os dedos nas teclas do acordeão o jogo dos primeiros nomes dos pintores debitados entre as duas a despique lembrei-me até do cheiro da tua câmara escura e do regresso a casa aos domingos à noite as certezas cimentadas depois na amizade e o dia em que o teu telefone se fartou de tocar e não me atendeste o frenesim do trabalho a distrair-me de ti e por fim aquela voz a dizer-me não me atendias pois não porque tinhas morrido já tinham passado quase dois meses na altura ninguém mais tinha o meu número não tinham podido avisar-me lembro-me como hoje não tem importância disse eu e desliguei desci até à rua para fumar um cigarro não sei quantas voltas dei por ali voltei à redacção onde outras notícias anestesiaram a tua só à noite no concerto da martírio correram as lágrimas ao ritmo do acordeão cigano já nem me lembrava que foi em março que nos conhecemos
publicado por manchinha às 00:07

Março 15 2008
perco-me nos teus braços eu que tão bem me resguardo dos afectos por os saber tão frágeis inseguros susceptíveis perco-me sim porque ao fechar os olhos é como se navegasse por partes do mundo que nem sabia que existiam e tu com a tua voz mansa guias-me timoneira de mares e precipícios em tão vertiginosas viagens que não sei como resistir-lhes no teu barco agacho-me e espero que venhas e me tomes a mão e me conduzas me leves à tua vontade por onde me queres e sigo-te e fecho o pensamento para que haja apenas lugar para os sentidos para neles me desfazer em muitas e pequenas provas de amor
publicado por manchinha às 08:44

Março 14 2008
só eu sei que sonhei contigo esta noite quero que sejas feliz murmurei ao teu ouvido e tu quase acalmaste mas não te basta a felicidade e as coisas que já tens que já conquistaste nesse teu modo inquieto tens de correr voar desafiar tens de entender e buscar não sei como se poupam as pessoas a essa irrequietude da alma às vezes fazes-me chorar porque não sei como te poupar a essa infelicidade que é tão tua e às vezes também penso que se calhar és tu que a crias que a moldas para te obrigares a avançar mais um bocadinho como tu gostas de punhos e dentes cerrados determinada pronta para todas as adversidades e às vezes também gostava de ser assim de me sentir tão à vontade nessas vestes de guerreira emocional que para ti a vida batalha-se triunfa-se gasta-se vive-se mesmo quando fazes de conta que te abateu quando quebrada te aninhas e te mostras como a pessoa mais indefesa do mundo só eu sei como sonho contigo e como te abraço para te mostrar que sim que te sinto
publicado por manchinha às 11:55

Março 13 2008
olha não sei o que tenho ou sei e não quero pensar muito nisso mas penso caramba se penso e penso devagar porque me faz bem isto que penso acaricia-me aquece-me e eu preciso disso sabes preciso de te dizer estas coisas e outras também quero pôr uma música suave com palavras dessas que se saboreiam na boca dançar contigo devagarinho a noite toda a vida toda falar-te ao ouvido baixinho dizer-te coisas que te façam sorrir e às vezes rir e olhar para mim e ter a mesma vontade de dizer e sentir o toque da tua cara na minha muito leve sem pressa porque quero guardar essa sensação pela vida fora o teu corpo perto do meu a acompanhar a música fecho os olhos e sei que estás aí uma agonia que me sabe bem olha não sei mesmo o que tenho nem me apetece sair deste momento parar o tempo aqui era importante era a eternidade o amor para sempre imutável naquele primeiro instante em que nos tocamos e nos reconhecemos olhos ainda baixos sem acreditar que tudo isto nos está a acontecer
publicado por manchinha às 13:53

Março 04 2008
os demónios são coisas pequeninas como as bactérias só que são mais parecidos com os anticorpos que a gente atira quando nos estão a atazanar o espírito e se perde a paciência e zás pega lá um demónio este foi feito de encomenda para ti e resulta sempre assentam que nem uma luva porque o corpo que leva com o anticorpo acusa sempre não é uma maravilha afinal só precisamos de estudar ciências da natureza biologia e física para perceber as relações sociais é tão simples e tornamos tudo complicado especialmente quando começamos a insistir nessa coisa das intenções ou que não foi com intenção e é claro que foi é sempre com intenção já se sabe mas invoca-se sempre alguma espécie de pureza quando não se quer confessar a verdade pura e simples ai que vontade dá de estalar quem se enche de boas intenções por isso é que se diz que delas está o inferno cheio a sabedoria popular está cheia de juízo mas voltando aos demónios que me parecem ser redondos rugosos e vagamente escuros embora o veneno tenha muitas cores e normalmente o branco é a mais comum delas não é como no cinema mudo em que se vomitavam pastas e pastas de veneno negro pela boca entre sacões de morte e olhos revirados daqueles cheios de sombra para se descobrir na profundidade o que faltava na expressão e por isso eu insisto os demónios são coisas pequeninas só que são muitos e acabam por valer em número o que não têm em tamanho e a coisa mais errada que há é subestimar um demoniozinho porque atrás dele vêm carradas e carrada de outros tipo marabunta solta-se um e vêm todos atrás porque não há demónio isolado não senhora vivem em magotes nuvens capazes de enegrecer o mais claro dos momentos demónio de coisa de que me fui lembrar
publicado por manchinha às 08:44

manchas negras, cinzentas e brancas em todos os cantos da nossa vida. que fazer senão chocar de frente com elas e esperar que o acidente tenha consequências notáveis?
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