manchinha

Março 18 2008
ao ritmo de um acordeão cigano as lágrimas às vezes são tolas não nos obedecem como hoje em que o acaso me devolveu uma foto tua meia enterrada na neve sempre gostei do teu sorriso ali feliz no meio daquele branco todo já quase não me lembrava do que me fizeste rir quando me contaste como demoravas e demoravas para calcorrear vinte metros até à cabina telefónica de onde me telefonavas à noite de repente lembrei-me de tudo do primeiro jantar a troca desajeitada de números de telefone a paciência com que esperaste que te aceitasse e como depois tudo se tornou tão fácil tão feliz mesmo as lições de golfe na serra onde plantávamos para sempre  bolas brancas o que te arreliavam os meus súbitos improvisos com a harmónica só para te ver baralhar os dedos nas teclas do acordeão o jogo dos primeiros nomes dos pintores debitados entre as duas a despique lembrei-me até do cheiro da tua câmara escura e do regresso a casa aos domingos à noite as certezas cimentadas depois na amizade e o dia em que o teu telefone se fartou de tocar e não me atendeste o frenesim do trabalho a distrair-me de ti e por fim aquela voz a dizer-me não me atendias pois não porque tinhas morrido já tinham passado quase dois meses na altura ninguém mais tinha o meu número não tinham podido avisar-me lembro-me como hoje não tem importância disse eu e desliguei desci até à rua para fumar um cigarro não sei quantas voltas dei por ali voltei à redacção onde outras notícias anestesiaram a tua só à noite no concerto da martírio correram as lágrimas ao ritmo do acordeão cigano já nem me lembrava que foi em março que nos conhecemos
publicado por manchinha às 00:07

manchas negras, cinzentas e brancas em todos os cantos da nossa vida. que fazer senão chocar de frente com elas e esperar que o acidente tenha consequências notáveis?
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