por vezes tenho medo quando estou sozinha no fundo do mar o frio que faz aqui em baixo ensopa-nos o corpo escoa-nos de forças parece que já não saímos daqui que já somos parte do fundo misturados com a água a areia as partículas abro os olhos e a luz está tão longe e eu sem forças para lá chegar parece mesmo que vou ficar só que na cabeça não é essa a minha vontade olho em volta mais atenta e então começo a ver as imensas partículas que flutuam em volta atento a todas algumas mais do que outras não sei exactamente porquê são os olhos que têm essa habilidade vontade de escolher algumas que cria uma enorme vontade de as seguir abro a boca e sugo-as sim apanho-as com a única parte do meu corpo que ainda consigo mover sugo-as com força e elas vêm como uma corrente de pequenas pérolas florescentes a entrar no meu corpo como um rio de energia a reconstruir cada porção diluída na água até recuperar tudo e continuo a sugar esse rio só que agora é o meu corpo que flutua e segue esse fio de vida até à luz e nesse caminho que faço recupero todas as minhas forças monto a minha energia como um puzzle de milhares de peças pequeninas entrelaçadas coesas como uma malha que agora é impossível deslindar sou uma rede fortíssima e não me espanto quando pouso um e outro pé na areia com força e saio a caminhar da água como uma mutante com os olhos ainda húmidos do mar algas ainda entrelaçadas nos cabelos agora sou eu de novo mas ainda mais poderosa e solto isso num único grito
publicado por manchinha às 10:16